Saiba como o síndico deve lidar com esta prática que se tornou uma verdadeira tendência nos dias de hoje.
As
novas tecnologias trouxeram muitas mudanças na configuração da sociedade moderna.
E uma das principais é o Home Office. O movimento de pessoas que estão trocando
a correria e o trânsito da cidade por um cantinho tranquilo em casa para
trabalhar não para de crescer. Jornalistas, designers, arquitetos, editores,
professores, comerciantes… A gama de profissionais que opta por este estilo de
trabalho é cada vez maior e as próprias corporações já incentivam alguns de
seus funcionários a darem conta das tarefas em casa. Para quem é adepto da
prática, as vantagens são muitas. No entanto, o síndico deve estar atento, pois
as normas de convivência do condomínio não podem ser quebradas.
Não existe nenhuma lei que impeça
um condômino de montar um Home Office em casa, no entanto, alguns fatores devem
ser levados em consideração. Segundo a psicóloga e uma das facilitadoras do
Centro de Capacitação Secovi Rio, Sílvia Regina Vieira de Sousa, é de bom
tom o morador avisar ao síndico que exerce algum tipo de trabalho em casa, no
entanto, isto não é obrigatório. “Se o escritório não for causar transtorno aos
moradores e às áreas de convivência, acredito que nem é preciso comunicar. Mas,
se o condômino pretende receber clientes ou promover reuniões, aí, acho que o
bom senso deve falar mais alto”, explica.
A psicóloga lembra que as
dependências do edifício até podem receber reuniões, mas a dica é combinar em
outro lugar. “As áreas comuns devem ser evitadas, o melhor é marcar uma reunião
fora. Até porque não é muito profissional receber um cliente na sua sala de
estar. Misturar a vida pessoal com o trabalho é sempre complicado. Mas, se não
tiver outro jeito, o condômino deve avisar antes de receber sua visita”,
completa.
Como mediadora de conflitos do
Secovi, ela já presenciou muitas discussões por este motivo. “É muito
importante preservar a segurança do prédio. Não deve haver uma rotatividade
grande de estranhos, afinal, ali é a casa das pessoas. Se isso acontecer, o
síndico deve emitir um comunicado ao morador, para que a entrada de estranhos
seja restringida”, afirma.
A empresária e diretora de TV,
Carla Lima Rocha, é adepta da prática há três anos, desde que cansou de
enfrentar um trânsito pesado diariamente para se locomover da Barra da Tijuca,
onde mora, ao Jardim Botânico. Prezando pela qualidade de vida, ela tirou um
armário de um dos quartos e transformou em bancada, fazendo dali seu local de
trabalho. “Como eu viajo pelo menos sete meses ao ano gravando, não faz muito
sentido ter escritório sem estar lá, então, me instalei em casa. Quando preciso
marcar reuniões, prefiro lugares diferentes até para variar o meu ambiente de
trabalho e não expor o prédio e as pessoas que moram aqui”, relata.
O arquiteto e designer de
interiores, Thiago Cataldo é da mesma opinião. Ele decidiu montar um escritório
em casa antes mesmo de se formar, pois percebeu que as empresas pagavam valores
abaixo do piso salarial de sua categoria. Para ele, que elabora a decoração de
imóveis, esta é uma tendência do mercado. “A internet facilitou muito a vida de
quem trabalha em regime de Home Office. Você não precisa mais de fax, basta ter
uma impressora multifuncional em casa. Já não vai com tanta frequência aos
correios, basta ter um e-mail. Não precisa enfrentar filas no banco, faz suas
operações online. E você divulga ainda seus trabalhos em sua página virtual”.
Síndico profissional dos
condomínios Alegria, na Taquara, e do Quartier Carioca, no Catete, João Ferraz
concorda que o Home Office é mesmo uma tendência, e, justamente por isso, o
síndico precisa estar atento às consequências que este movimento traz para o
condomínio. A segurança dos moradores e a manutenção das áreas comuns são os
aspectos mais relevantes a serem observados. “Acho importante sempre comunicar
ao síndico do trabalho em casa, mesmo que não vá receber clientes, pois antes
de tudo é preciso checar se está de acordo com a convenção do condomínio. Outro
ponto importante é o barulho. Os outros condôminos não devem ser incomodados
por causa da atividade de um morador”, explica ele.
Atividades como salão de
beleza, consultório de dentista, clínica médica e de exames em geral demandam
uso de equipamentos e podem causar ruídos, cargas elétricas diferentes das
residenciais e trânsito de pessoas que possam portar doenças infecciosas. Essas
funções dependem de autorizações especiais para funcionamento. Já profissionais
como tradutores, assessores de imprensa, escritores, contadores, economistas,
entre outros, que não causam qualquer tipo de problema ao edifício, podem ficar
tranquilos.
Para os dois grupos, vale
lembrar que se o Home Office causa qualquer tipo de ônus ao condomínio, como a
utilização de luz ou gás sem autorização, o trabalho poderá ser impedido. A
atual legislação permite que sejam estabelecidas multas e até exclusão de
condômino que esteja em desconformidade com a lei e com a convenção.
Uma
nova realidade no mercado imobiliário
Segundo uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB), quatro em cada dez trabalhadores com carteira assinada perdem o emprego todos os anos. E metade dos empregos dura menos de dois anos. O setor imobiliário já assimilou esta tendência. Além da churrasqueira, do espaço gourmet, da academia e do espaço para animais, os novos empreendimentos costumam ser projetados com escritórios na área comum dos edifícios. São locais equipados com mesas, wireless e sofás – que podem ser alugados pelos moradores para eventuais reuniões de trabalho.
Segundo uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB), quatro em cada dez trabalhadores com carteira assinada perdem o emprego todos os anos. E metade dos empregos dura menos de dois anos. O setor imobiliário já assimilou esta tendência. Além da churrasqueira, do espaço gourmet, da academia e do espaço para animais, os novos empreendimentos costumam ser projetados com escritórios na área comum dos edifícios. São locais equipados com mesas, wireless e sofás – que podem ser alugados pelos moradores para eventuais reuniões de trabalho.
“Na realidade, o condômino pode
sim reservar um espaço e fazer a reunião dele ali. Os novos condomínios estão
se adequando a esta nova cultura, no entanto, o morador só precisa ter bom
senso. Se esse exercício não traz qualquer incômodo ou risco apresentado pela
atividade profissional ao condomínio e aos vizinhos em geral, não há o porquê
do seu impedimento. O condomínio deve interferir em tais atividades apenas
quando afrontam a lei ou colocam em risco a segurança, o sossego e conforto
razoável da comunidade”, conclui Ferraz.
Regras da boa convivência
> O condômino pode marcar
reuniões em casa ou nas áreas comuns, desde que as visitas sejam anunciadas
anteriormente e não comprometam a segurança dos moradores;
> Ele não deve fazer barulho
sob-hipótese alguma;
> É de bom tom avisar ao
síndico que a residência possui um Home Office;
> O síndico deve checar
antes se a atividade está de acordo com a convenção;
> O trabalho não deve causar
nenhum prejuízo ao condomínio, sob pena de multa e expulsão do condômino;
> O condômino deve evitar
receber clientes ou visitas no prédio;
> Se algum morador se sentir
incomodado, deve procurar o síndico;
> Se ocorrer algum problema
com o funcionamento do Home Office, o síndico deve emitir um comunicado ao
morador e há possibilidade de multa.
Texto: Mario Camelo
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